14.3.06
Antes de nascer – estava eu, pululante e feliz correndo entre as nuvens - quando começaram as chamadas para os que seriam concebidos naquela data. Me apressei em entrar na fila daqueles que seriam celebridades. Eu diria que era algo semelhante à fila no Pão de Açúcar para comprar ingresso do U2: lotada e desorganizada, cheia de gente reclamona. Desanimei na hora. Ficar ali representava desperdiçar todo o meu tempo para a corrida das qualidades. Estaria fadada à uma existência de luxo, poder e riqueza mas talvez, sem nenhum caráter, inteligência ou talento. Corri para a outra, a dos gênios, mas percebi que estes já se mostravam bem mais espertos (antes mesmo de nascer) uma vez que fui feita de otária e, sem querer, parei na fila daqueles que teriam cabelo ruim. Depois de ser condenada à toda uma existência a base de creme sem enxágüe, voltei à minha busca, sem deixar de maldizer por infinitas vezes aquele moleque russo desgraçado que seria campeão mundial de xadrez aos 7 anos de idade...
Percebi que em um dos guichês mal formavam-se filas. Na verdade, eram os sentinelas divinos que corriam atrás das pessoas condenando-lhes, cruelmente: “Você vai ser vesgo! Você também!”. Sem contar naqueles que saíam distribuindo calvícies. Corri destes até que, em dado momento, sem mais nem menos, tropecei e ouvi, direcionado à mim, um “VOCÊ NÃO!”. Era Santo Antônio, apontando com seu indicador incisivo para aqueles que teriam ou não um grande amor em suas vidas. Era aleatório: olhava para um e dizia “Você sim!”. Olhava para outro e mandava: “Você não!”. Eu tive a infelicidade de cair ali, bem perto e justamente na vez do “Você não!”. Ainda corri atrás dele, pedi para que ele mudasse de idéia, mas não adiantou. Já sentia que era a minha hora de ir, quando gritei: “Santo Antônio Filho da Puta!” e ele, só de raiva, me tascou esse nariz do tamanho de um transatlântico!
Percebi que em um dos guichês mal formavam-se filas. Na verdade, eram os sentinelas divinos que corriam atrás das pessoas condenando-lhes, cruelmente: “Você vai ser vesgo! Você também!”. Sem contar naqueles que saíam distribuindo calvícies. Corri destes até que, em dado momento, sem mais nem menos, tropecei e ouvi, direcionado à mim, um “VOCÊ NÃO!”. Era Santo Antônio, apontando com seu indicador incisivo para aqueles que teriam ou não um grande amor em suas vidas. Era aleatório: olhava para um e dizia “Você sim!”. Olhava para outro e mandava: “Você não!”. Eu tive a infelicidade de cair ali, bem perto e justamente na vez do “Você não!”. Ainda corri atrás dele, pedi para que ele mudasse de idéia, mas não adiantou. Já sentia que era a minha hora de ir, quando gritei: “Santo Antônio Filho da Puta!” e ele, só de raiva, me tascou esse nariz do tamanho de um transatlântico!