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28.12.05


Minha mãe sempre falava:

- Filha, cuidado com essa internet! Tem muito tarado!

Ouvir isso da minha mãe era mais ou menos como ouvir algo do tipo “Filha, põe uma blusa porque tá frio lá fora”. Eu sei que a internet tem tarado. O mundo tem tarado! Mas o que é que a gente faz? Toma uma certa precaução aqui, um cuidado a mais ali e ele acabam nem interferindo na nossa vidinha feliz.

Minha mãe diz que a internet tem tarado porque é isso que ela vê na TV. Se ela fosse uma usuária assídua da rede saberia que na verdade, a internet É CHEIA de tarado. É o que mais tem. Tarado e putaria.

Mas eu sempre soube me sair bem dessas. Lembro-me que, certa vez, um cara me adicionou no msn e apareceu no thumbnail, assim, logo de cara, com uma foto do pau dele. Um pau enooooooorme, minha gente, que que era aquilo! E o cara já veio conversando falando de pornografia, assim, direto e reto! Nem me ofereceu um drink antes! Bah, que gente sem romantismo...

Enfim. Depois desse infeliz, nunca mais a minha vida foi infestada por punheteiros. Pelo menos, não que eu soubesse. Eis que, esses dias, um indivíduo me chama no msn. Achei estranho pois o nome dele não aparecia na minha lista e não veio nenhum pedido para adicionar alguém, ali, naquela hora. Foi então que lembrei que eu o havia excluído certa vez, porém, sem bloquear. Nesse caso, ele conseguia me ver online o tempo todo, mas eu não o via, uma vez que ele não estava mais na minha lista. Resolvi conversar com ele.

Um argentino. Um argentino careca. Um argentino careca, morando em Barcelona e designer. Interessante, não vou negar. Começamos a conversar sobre arte, sobre bobagens em geral, sobre como era a vida dele na Europa...

- Muito sozinho...
- Sei...
- Não tein namorada...
- Ah, que chato não? Arruma uma aí!
- Aqui só tem lora. Eu gosta de morena.
- A-ham...

Eu comecei a achar a conversa estranha. Sei lá, você percebe quando o rumo da conversa tende a ir para a putaria saudável ou quando tende a ir para a putaria psycho. Nesse caso, eu senti que ia rolar um putaria psycho.

- Posso encender my webcam?
- Encender? Que é isso?
- On. Webcam on.
- Ah tá. Ligar. Tudo bem, liga aí.

Lá estava ele. Uma careca bonita, por sinal. Daquelas redondinhas, sem nada de cabelo mesmo.

- Bonita careca.
- Voy pasar una foto.

E me mandou umas fotos dele. Bonitinho. Na Alemanha, em Nova York...

- Pasame una sua.

Tá louco? Esse cara acha mesmo que eu vou passar foto minha pra ele?

Eu tenho 3 gigas de foto minha aqui em casa. Um monte mesmo. Dezesseis álbuns no Ringo. Mas aqui ó que eu ia passar foto pra ele. Aqui ó!

- Cara, num vai rolar... Não tenho foto aqui... Formatei o micro há pouco tempo... Estão todas em um CD lá no escritório...
- Que pena... Posso mandar-te mais?
- Manda aê.

Foi então que ele começou a me passar umas fotos dele sem camisa. E de cueca. A seqüência começava no “1.jpeg” e acabava no “5.jpeg”. Na primeira foto, ele estava abaixando “levemente” a cueca. Imagine como era a quinta foto...

Já estava achando aquilo patético. Eu ria, ria e ria. Pensava na questão da decadência e da solidão humana. A que ponto chegamos! A que ponto aquele cara chegou! Pôxa, ele era gato, inteligente, estava na europa! Pra que ficar tirando foto pelado? Foto do pau?

Acho que esse cara é gay.

- Meu, você é bicha?
- Bicho?
- Não! Bicha! MARICÓN!
- Ah, no no! Soy hetero.
- Certo...

E continuei conversando, até que ele começou a me propor certas coisas, digamos assim... Incomuns. Resumindo, ele queria fazer uma demonstração das fotos, agora, via webcam.

- Vai fundo.

E o cara começou a meio que... Sei lá como falar isso. O cara começou e mostrar a cueca e tals. Era uma cueca bonitinha, parecia capa de sofá: xadrez, verdinha... Vi até que era Calvin Klein!

Enfim... minutos depois, o cara estava mostrando o pau para mim, via webcam. Eu queria muito ter uma camera digital para tirar uma foto minha naquele momento. Mas como não posso, tentarei descrever minha expressão. Era algo como um olhar fixo no monitor, na performance do rapaz. Olhos semicerrados, mão na boca, queixo meio caído... Pude sentir que uma das minhas sobrancelhas estava levemente mais levantada que a outra. Eu não piscava. Enquanto isso, o cara lá, se empenhando em mostrar serviço pela webcam.

Patético...

Um amigo entrou no msn e começou a conversar comigo. Enquanto o outro estava lá, empolgado e “feliz” em sua atuação, eu falava para ele:

- Cara, tô vendo uma cena patética...
- O quê?
- Um cara mostrando “as coisas” para mim...
- Nossa... a que ponto chega a decadência humana. Há um tempo atrás eu conheci uma menina, no Masp. Combinamos de nos encontrar lá. Aliás, o Masp é um ótimo lugar para se conhecer as pessoas. Essa menina olhava para os quadros como quem vê pano de prato. Era chata, vulgar e queria dar a qualquer custo. Saí correndo.
- Pois é... Esse cara aqui tá em Barcelona, é designer e está com uma cuequinha até que bacana...
- Tá vendo? É um psycho com glamour pelo menos...
- Glamour? Aonde há glamour em mostrar o pau pela net?

Percebi então, que o meu papo na outra janela estava muito mais interessante. Sem mais nem menos, fechei a webcam e bloqueei o cara.

- Bloqueei ele.
- Assim, do nada?
- É.
- Nem se despediu?
- Não.
- Por quê?
- Porque não, ué? Porque o msn me dá essa sensação de poder e eu vou me aproveitar disso. Lá está ele: online e com uma bolinha vermelha em cima do nome. Fico imaginando quantas coisas ele deve pensar agora: “ela caiu?”, “deu pau no micro dela?” e coisas do tipo. Quer dizer, pau no meu micro, deu mesmo... HAHAHAHAHAHAHAHA!!!
- HAHAHAHAHAAHAHAHAHA!!!

E assim, passei eu, o resto da minha noite me divertindo com as tiradas sarcásticas do meu amigo e olhando, vez ou outra para o careca bloqueado.