22.11.07
A Veja finalmente assumiu que tem uma lista negra!
Não que a gente não soubesse. Mas até então a coisa não era assim pública, escancarada. Honestamente, eu acho que a Veja teve um papel importante no país: publicou grandes reportagens em uma época de repressão à liberdade de expressão, quase faliu a Abril, deu voz a jovens e veteranos jornalistas e construiu uma “credibilidade” que, convenhamos, não se faz do dia pra noite, é preciso muito [bom] trabalho para isso.
Só que a Veja perdeu a mão. Depois do fim da ditadura, das Diretas e do Collor, parece que o que de mais interessante a revista consegue fazer é cozinhar reportagens internacionais, bater na eterna tecla Lula e tentar desconstruir por meio de uma linha editorial que já não é respeitada como nos áureos tempos da sua concepção original. A Veja virou referência de parcialidade golpista, ouvir alguém dizendo que leu o que quer que seja na revista, a priori, já lhe dá conotação de consumidor de ideologia barata oriunda de revistas de direita.
Tenho acompanhado a polêmica entre o Schelp e o Lee Anderson sobre a reportagem do Che Guevara que saiu há algumas semanas. Coincidentemente, vi no sábado passado um debate [ao vivo] com o Flávio Tavares – um dos presos “trocados” pelo Charles Burke Elbrick – onde ele falava um pouco sobre sua convivência com o Che [fez fotos dele e recentemente lançou um livro* com essas imagens]. Na ocasião, um dos espectadores fez a ele uma pergunta que tratava justamente sobre a reportagem da Veja. Perguntava qual a opinião dele a respeito e achei a resposta do Tavares de uma maestria idiossincrática, impossível de encontrar nesses tristes e apáticos dias de hoje. Como não anotei a resposta, tentarei aqui descrevê-la no limite que a minha memória permitir, parafraseando as palavras do autor. Ele disse que a Veja retratou o Che como um perdedor, um cara que não tinha estratégia, que foi derrotado. Mas, segundo ele, por que Che Guevara deveria ser um vencedor? Esta é a vida real e ela quase sempre tem finais infelizes principalmente para uma pessoa que, segundo Tavares, era uma entidade, algo grande demais para ser retratado em meia dúzia de páginas, ainda mais pela Veja.
Sei que a polêmica Schelp-Anderson enveredou-se para outros âmbitos. O foco está sobre esse jornalismo contemporâneo que a gente nem sabe mais para onde vai. Essa parte, a gente pula.
É que, para mim, a resposta do Flávio Tavares diz tanto. Inclusive, o que todo mundo esqueceu de falar.
*Livro: O CHE GUEVARA QUE CONHECI E RETRATEI
Autor: TAVARES, Flávio
Editora: Zero Hora
Preço: R$ 22,90, na Livraria Cultura
Não que a gente não soubesse. Mas até então a coisa não era assim pública, escancarada. Honestamente, eu acho que a Veja teve um papel importante no país: publicou grandes reportagens em uma época de repressão à liberdade de expressão, quase faliu a Abril, deu voz a jovens e veteranos jornalistas e construiu uma “credibilidade” que, convenhamos, não se faz do dia pra noite, é preciso muito [bom] trabalho para isso.
Só que a Veja perdeu a mão. Depois do fim da ditadura, das Diretas e do Collor, parece que o que de mais interessante a revista consegue fazer é cozinhar reportagens internacionais, bater na eterna tecla Lula e tentar desconstruir por meio de uma linha editorial que já não é respeitada como nos áureos tempos da sua concepção original. A Veja virou referência de parcialidade golpista, ouvir alguém dizendo que leu o que quer que seja na revista, a priori, já lhe dá conotação de consumidor de ideologia barata oriunda de revistas de direita.
Tenho acompanhado a polêmica entre o Schelp e o Lee Anderson sobre a reportagem do Che Guevara que saiu há algumas semanas. Coincidentemente, vi no sábado passado um debate [ao vivo] com o Flávio Tavares – um dos presos “trocados” pelo Charles Burke Elbrick – onde ele falava um pouco sobre sua convivência com o Che [fez fotos dele e recentemente lançou um livro* com essas imagens]. Na ocasião, um dos espectadores fez a ele uma pergunta que tratava justamente sobre a reportagem da Veja. Perguntava qual a opinião dele a respeito e achei a resposta do Tavares de uma maestria idiossincrática, impossível de encontrar nesses tristes e apáticos dias de hoje. Como não anotei a resposta, tentarei aqui descrevê-la no limite que a minha memória permitir, parafraseando as palavras do autor. Ele disse que a Veja retratou o Che como um perdedor, um cara que não tinha estratégia, que foi derrotado. Mas, segundo ele, por que Che Guevara deveria ser um vencedor? Esta é a vida real e ela quase sempre tem finais infelizes principalmente para uma pessoa que, segundo Tavares, era uma entidade, algo grande demais para ser retratado em meia dúzia de páginas, ainda mais pela Veja.
Sei que a polêmica Schelp-Anderson enveredou-se para outros âmbitos. O foco está sobre esse jornalismo contemporâneo que a gente nem sabe mais para onde vai. Essa parte, a gente pula.
É que, para mim, a resposta do Flávio Tavares diz tanto. Inclusive, o que todo mundo esqueceu de falar.
*Livro: O CHE GUEVARA QUE CONHECI E RETRATEI
Autor: TAVARES, Flávio
Editora: Zero Hora
Preço: R$ 22,90, na Livraria Cultura