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1.1.06


Eu tenho um defeito horrível: eu sou uma pessoa que fala mais do que pensa. Sim, porque aquela história de que a gente não tem dois ouvidos e apenas uma boca à toa não funciona comigo. No meu caso, é a boca e dois cotovelos contra os ouvidos. Eu falo muito mais do que penso. Muito mais.

Foi mais ou menos isso que aconteceu no meu reveillón: tomei todas, enchi a cara, fiquei trêbada e, óbvio, liguei pra deus e o mundo, deixei recados esdrúxulos em caixas postais, falei aquelas coisas idiotas tipo “te considero pra caralho” e os diabos! Que vergonha... Ao leitor desse blog contemplado com alguma ligação absurda dessas, por favor, desculpe-me desde já. Sabe como é... Eu falo mais do que penso. Com bebida então... Aí eu só falo, porque depois de um certo grau de alcoolismo, pensar acaba tornando-se uma tarefa deveras difícil...

É por isso que eu gosto de escrever. Escrever é um exercício de reflexão, você obrigatoriamente precisa pensar, pode apagar o que não gostou, reformula, estrutura melhor. Escrever é ótimo. Mas ainda assim, não dá pra viver em um mundo de msn, um mundo escrito. Sim, Endora. Existe um mundo que vai além do monitor do seu computador, as pessoas do msn também são de carne osso e na vida real elas não são um thumbnail dentro de uma janela azul-calcinha!

Pensando nisso, me veio à mente uma cena bizarra, de gente andando na rua vestida com uma espuma quadrada no formato da janela do msn e com o rosto aparecendo só na abertura estrategicamente colocada no local do thumbnail. Gente real em uma janela do msn, andando ali pela Paulista, pegando o metrô, colocando apelidos esdrúxulos no lugar do nome, falando “bom dia” e “boa tarde” através de mensagens que aparecem na parte inferior da roupa de espuma e determinando status de “em horário de almoço” quando entra no restaurante ou “ocupado” quando volta para o escritório... HAHAHAHAHAHAHAHA!

Enfim, idiotices à parte, lidar com gente é horrível. HORRÍVEL! Por mais que as pessoas sejam boas, sejam seus amigos ou sua família, lidar com elas é muito difícil... Principalmente quando ninguém quer dançar loucamente junto com você na sala, ou quando as pessoas não entendem o que você fala, ou quando não querem conversar sobre coisas que vão além do “eu”, “eu” e “eu”.

Meu reveillón foi ótimo. Passei com grandes amigos, pessoas que amo. Tirei muitas fotos, dormi praticamente agarrada a uma garrafa de champanhe e consegui contabilizar as primeiras doses de 2006 [lembram da minha meta?]. Mas por muitas e muitas vezes durante a noite eu senti falta de ter alguém com quem eu pudesse falar sobre todos aqueles assuntos chatérrimos e pelos quais eu adooooooro discorrer. Eu senti falta de poder falar sobre a sociedade, sobre o capitalismo, eu senti falta de falar sobre arte, sobre música... Em um dos poucos momentos que pude discorrer sobre uma questão mais política, percebi que uma das ouvintes bocejava descaradamente - jogando na minha cara o quão chato estava o assunto - enquanto a outra, vez ou outra lançava mão de uma opinião previamente cozida, dessas que a gente compra pronta em alguma Veja ou Isto É da vida.

Alguém apareceu e pediu para que eu parasse com aquela conversa chata. "Vamos esquecer tudo, é ano novo!". "Vamooooos!". E assim, abandonamos as poucas e parcas reflexões surgidas naquela mesa. E nem era meia noite ainda...

Mas tudo bem. Este ano a gente também vai esquecer de tudo. Tem Copa do Mundo. Coincidentemente, sempre em ano de eleição.

Ah, as pessoas. Tão difícil...