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3.5.04


TUDO, MENOS POCHETE

Quinta-feira passada:

Antes de sair do escritório, fui até o banheiro. Dei uma arrumada no cabelo, passei um perfuminho, escovei os dentes e mandei ver num batom básico, daqueles que num tem cor de nada, aka conhecidos como “cor de boca”. Uma última olhada no espelho e...

Sim! Você tá lindona!!!

E saí, toda pimpona, pra minha primeira aula de bateria.

Enquanto eu entrava no carro, começaram as divagações bestas sobre o professor...

Imagine só se ele for careca, Endora!!! Ele deve ser gatinho... porque bateristas são gatinhos... bom, ele pode ser cabeludo! Ah, mas não tem problema! O importante é ser chuchu... provavelmente ele deve ter braços fortes e deve ser alto. Porque eu nunca vi um baterista baixinho. Mas eu já vi baterista gordo! Ah, mas se ele for meio cheinho, qual o problema!? Ele deve gostar de rock também porque os bateristas sempre gostam. Mesmo quando eles tocam samba e tals... todos eles tem influência rock ‘n roll... Pensa positivo, Endora! Ele vai ser gatinho!!!

E desci do carro, esperançosa de encontrar o professor mais gato do mundo, ao entrar naquele bendito instituto de música.

Eu sentia o vento bater nos meus cabelos... Eles estavam tão esvoaçantes quanto os cabelos daquelas modelos nos comerciais de shampoo... Dei aquela ajeitada nos peitos, preparei meu olhar mais sexy, fiz aquele biquinho básico e me debrucei no balcão da recepção...

Eu: Eu vim para... para a minha primeira aula de bateria...

Recepcionista: Ah tá! Você é a aluna do Sandro...

Sandro... é... não conheço velhos xexelentos chamados “Sandro”...

Recepcionista: Sandro! Essa aqui é a sua aluna...

Eu estava de costas. Comecei a imaginar o impacto que seria aquele primeiro olhar! Eu me virei lentamente... o coração batendo mais rápido, a respiração ofegante, o peito estufado, o olhar sexy, o beicinho fatal e...

Sandro: Oi!

*PÂNICO*

Se minha vida fosse um filme, naquele momento começaria a tocar a música de “Tubarão”. Um close seria dado em meus olhos para demonstrar tamanho medo que eu senti naquele momento.

Meu olhar começou a transcorrer por aquele homem...

Mocassim...
Calça de moletom...
Camiseta justa...
Pança...
Calvice...
POCHETE!!!


Engoli seco. Ele esticou a mão. Fiz a maior força do mundo para estender a minha...

Por favor, meu Deus! Que ele não queira me dar um beijinho!!!

Ainda bem que foi só um aperto de mão. Lá estava eu, com um embrulho no estômago, frustrada até o último fio de cabelo, vendo todas as minhas esperanças de ter um professor gato indo por água abaixo...

Eu comecei a observá-lo melhor enquanto ele pegava alguns papéis dentro de uma bolsa...

Oh meu Deus!!! Porque ele é tão feio? Por que ele é tão tosco? PORQUE ELE USA ESSA MALDITA POCHETE???

Sim. A pochete. Eu não conseguia tirar os olhos daquela MALDITA POCHETE! Tudo é perdoável! Calvice, pança, feiúra... até aquele mocassim horrível! Mas pochete não! POCHETE É IMPERDOÁVEL...

Sandro: Vamos descer para o estúdio?

Eu: Va-vamos...

E lá estava eu, indo rumo ao desconhecido com aquele ogro da pochete... cheguei no estúdio.

Sandro: Vamos começar com uns aquecimentos que são legais pra você praticar antes de tocar...

Ai, se ele fosse gato eu nem ia precisar de aquecimento... mas agora, eu tô me sentindo o próprio freezer Brastemp!

Exercício um. Exercício dois. Exercício três.

Que coisa babaca!

Sandro: Você já toca?

Eu: É... um pouco... não tenho muita técnica...

Sandro: E que tipo de som que você toc...

Eu: ROCK! E eu odeio samba!!!

Sandro: Ah, mas você vai ter de aprender um pouco de tudo... 80% da aula é pop-rock... e 20% é jazz, funk, black e... samba.

Eu: Vamos deixar esses 20% por último então...

Sandro: Que tipo de banda você ouve, gosta...?

Eu: Ah, eu gosto de Placebo, Violent Femmes, The Hives, Strokes, White Stripes...

Sandro: Ah... é... eu não conheço... eu sou mais das antigas...

No mínimo, você deve gostar de Yes e Van Hallen...

Eu: E você gosta do quê?

Sandro: Ah, eu sou mais das antigas...

É... você é um velho mesmo...

Sandro: Eu gosto de progressivo...

Você vai arder no fogo do inferno!!!

Eu: Você gosta de Yes?

Sandro: É! Yes é legal!

Queima Satanás!!! Você vai tocar bateria ao lado do Hitler, seu profano!

E depois desse balde de água congelada, eu fiz uma meia dúzia de exercícios e fiquei de treinar o resto em casa.

Entrei no meu carro e pensei:

Bem feito, sua cretina!

Ok. O dia já tinha terminado mesmo. Era só eu chegar em casa e dormir. Pra que o resto dele não fosse aniquilado pelas tórridas lembranças daquela primeira aula. Mas, eu tentei ver o lado positivo da coisa e pensei:

A aula é só UMA vez por semana.

Mas, como a esperança é a última que morre, ainda fui pra casa imaginando que, talvez na próxima semana, ele pegue alguma virose, fique afastado do trabalho e no lugar dele venha, finalmente, um professor gatinho pra me deixar um pouco mais feliz...

No próximo capítulo:

“Como a Endora foi achincalhada pelos seus amigos de faculdade neste final de semana, ao contar a história do professor tosco”.