18.4.04
O CHURRASCO
Cris: Vou te apresentar um cara.
Eu: Por quê?
Cris: Como assim... “por quê” ? Você deveria dizer: “Sério? E como ele é?” e tals...
Eu: Ai, Cris...
E aí, seguiu-se toda uma explicação a respeito do “porquê” de querer me apresentar o tal garoto. Primeiro, porque ele é careca. Depois, porque ela ia ficar com o amigo dele e o cara pediu pra ela levar uma amiga pro amigo. Ainda tinha o fato de que ia rolar um churrasco na casa dele, além de...
Cris: ... ele tem TUDO a ver com você!
Eu: Não diga...
Tá. A minha empolgação não era das maiores. Até porque eu ando com tanto medo de me apaixonar de novo, que eu ando correndo de qualquer cara que possa causar esse siricutico em mim novamente...
Eu: Tá bom... eu vou nesse tal churrasco!
Nem fiz nenhuma mega produção pra ir. Ah, meu! Era só um churrasco! Quando a Cris me viu, ela quis me espancar. Mas eu tava com o “foda-se” ligado e já entrei no carro acendendo meu cigarro. Eu tinha colocado um jeans qualquer, all star, uma blusinha que nem decote tinha, fiz uma trança no cabelo e coloquei os meus brincões-de-argola-tipo-bambolê que, eu acho, eram as únicas coisas que realmente chamavam a atenção para a minha pessoa... sim, eles são MUITO enormes!
A gente chegou lá na casa do cara e já tinha um tantão de gente... gente na graminha do jardim, gente na escada, gente na beira da piscina... é meu... o cara tinha uma PUTA casa!
Depois de eu quase chutar uns três poodles nojentos que apareceram no portão [e quase levar uma surra da Cris por estar querendo fazer isso], o tal carinha com quem ela tava ficando apareceu pra receber a gente, todo simpático e tals... fiquei só esperando pra ver o que me aguardava...
Enquanto a gente passava pelo meeeega jardim que tinha na casa do cara, eu fui só olhando o naipe do povo que tava ali. De um lado, Patis que se achavam junkies. De outro, Mauricinhos querendo dar uma de punks. O HORROR! Porque garota junkie não fica comentando sobre as compras daquela tarde na loja da Guaraná Brasil. E punks verdadeiros não usam gel no cabelo... aliás, punks de verdade nem tomam banho... ou pelo menos, não tomavam...
Depois de ver tão mórbida cena, já fiquei imaginando que o tal dono da festa, aka, careca que a Cris ia me apresentar, deveria fazer parte dessa escória burguesa e que naquela noite eu iria parar na delegacia por assassinar três cachorros de madame!
E lá veio ele... Beijinhos no rosto. “Oi” daqui, “oi” dali... “Prazer, Vítor”. “Prazer, Endora”. “Cris, como você tá bonita!”. “Nossa que brinco grande!”. E já pensei: “A estratégia da roupa fuleira vai dar certo...”, afinal, quem estava bonita era a Cris. Eu estava apenas com “brincos grandes”.
Como um bom anfitrião, ele foi buscar uma cerveja. Eu e a Cris ficamos lá no sofazinho bacana... praticamente nos comunicando por pensamento e por olhares... até que ela quebrou o silêncio:
Cris: Ele é gatinho, num é?
Eu: Normal. Nada demais. Tirando o fato de ser careca... é um cara absolutamente comum...
Cris: Foda essa casa hein?
Eu: Ah meu! Isso é! Esse cara num tem família não?
Cris: Os pais dele estão na praia.. vão quase todo fim de semana pra lá. E a irmã mais velha dele já é casada... ai, por que eu num tenho uma casa dessas?
Eu: Por que é que eu não tenho pais que viajam para a praia todo fim de semana?
Então, ele voltou com o amigo que ia ficar com a Cris. Cinco minutos depois, eles já estavam se atracando feito duas igüanas em época de procriação. E eu lá, com a minha latinha entre as mãos, olhando pra péssima decoração daquela sala, que mais parecia uma loja de móveis, tamanha era a quantidade de coisa nada a ver no mesmo ambiente...
Eu: Legal a decoração da sala...
Vítor: Ah! Fala sério! Isso aqui é horrível! A mulher do meu pai tem um péssimo gosto pra isso...
Huuuuuuum... gostei disso!
Eu: Ah... seus pais são separados...
Vítor: Não... meu pai é viúvo. Faz uns 7 anos que minha mãe faleceu...
Eu: Putz... sinto muito...
Vítor: É... mas aí ele achou esse vaca-loira...
... e me mostrou um porta-retrato com a foto dos dois...
Vítor: ... e casou com ela...
Huuuuuuum... gostei MESMO disso!
E apareceu um poodle...
Vítor: ... e eu odeio esses poodles que ela tem também...
Estou começando a me arrepender de não ter colocado um decote...
E seguiu-se então uma longa conversa sobre “n” coisas: música, bandas, faculdade, amigos, viagem, TV... Tudo bem que, de 5 em 5 minutos, o celular dele tocava, alguém chegava e ele ia receber, alguma garota o parava na entrada da sala, a empregada vinha dizer que o amigo dele que tava na churrasqueira queria saber se podia colocar mais carne lá... mas o interessante é que ele sempre voltava pro sofazinho...
Realmente. Tínhamos muito a ver. Porque a gente não parava de conversar durante um minuto. Sabe quando o assunto não acaba? No começo, achei que aquela atenção toda era mera formalidade ou educação... mas depois... bom, ninguém volta pra trocar idéia com alguém cuja conversa não está sendo interessante!
Passei então da fase “ele-não-está-sendo-apenas-educado-e-está-realmente-gostando-de-conversar-comigo” e passei para a fase do “esse-cara-só-quer-me-comer”. Porque é IMPOSSÍVEL um cara ser tão legal assim com uma menina que está mega mocréia, apenas porque a conversa tá boa... SEMPRE HÁ segundas intenções... Whatever!
Até que, chegou uma hora que o cara ficou muito puto com tanta gente procurando por ele o tempo todo. Ele virou pro amigo dele que tava ficando com a Cris, deu a chave da casa pro cara e disse: “Toma conta!”.
Quando ele falou isso, eu pensei:
“Ih! Fodeu!”
O cara pegou na minha mão...
“Ai meu Deus! Fodeu mesmo!”
Vítor: Vâmo pro meu quarto... lá ninguém enche o saco e a gente pode conversar de boa...
“Caraleeeeeeo!”
Fui subindo as escadas, olhando desesperada para a Cris, que beijava o tal menino com o olho arregaladão e me fazendo sinal de “positivo” ... uma cena mais do que tosca!
Cheguei no quarto do cara, sentei na cama...
“Se ele trancar a porta... já era!!!”
Felizmente ele não fez isso. Só encostou a porta. E eu lá, com aquela cara de... “e agora”?
E então o menino deu um pulo da porta até a cama, que eu quase caí do colchão!!! Me agarrou, começou a me beijar e a fazer todas aquelas coisas... e eu lá, beijando, agarrando e só pensando... “E agora? Dou ou não dou pra esse cara?”.
Comecei a refletir sobre a situação. Era um pouco difícil porque eu tinha que coordenar mãos, boca e pensamentos... mas eu continuei tentando...
Esse cara é gato. Esse cara é legal. Acho que num vai ter problema dar pra ele... Se bem que ele pode ser do tipo pilantra e deve estar fazendo tudo isso só pra comer. Toda essa gentileza e tals... É... ele só quer me comer... mas, e daí? Eu quero dar! E agora? Dou ou não dou? Dou ou não dou? Dou ou não dou?
Foi então que ele me deu um puxão de cabelo, mas AQUELE puxão de cabelo de quem já tem anos e anos de prática em catar meninas cabeludas... um puxão de cabelo que meu ex namorado, em quatro anos de namoro, nunca aprendeu a dar! Porque não foi um simples “puxão”: ele segurou meu cabelo assim, perto da nuca, fechou a mão e puxou o cabelo com os dedos... olha... vou te contar uma coisa...
Dou!
E aí, ele começou a morder meu pescoço...
Dou! Dou! Dou!
E o cara começou a levantar minha blusa, e eu puxei a camiseta dele e...
“Au! Au! Au! Grrrrrrrrrrr!!!”
Vítor: Poodle filho da puta! Solta a minha meia!
O POODLE!!! Quem diria! O POODLE FOI A SALVAÇÃO! Ele levantou, foi até a porta e quase arremessou o cachorro lá de cima... aproveitei a deixa e falei que precisava pegar minha bolsa com a Cris. Acho que ele pensou que eu estivesse indo buscar camisinhas porque ele nem falou nada. Apenas, que ia me esperar...
Engoli seco, desci as escadas ainda meio descabelada e encontrei com a Cris saindo da cozinha...
Eu: Cris... pelamordedeus!
Cris: E aí? Beijou?
Eu: Se eu beijei? Meu, o cara tá quase fazendo sexo selvagem comigo lá em cima!!!
Cris: EEEEEEEEEEEEE!!!
Eu: Cris, eu num vou dar pra ele...
Cris: Por quê?
Eu: Ah meu... sei lá... eu acho que eu num devo... eu quero, mas eu num devo...
Cris: O cara num é legal? O cara num é bonito? O cara num tem essa puta casa? Você tirou a sorte grande! Tem um monte de menina querendo ficar com ele e o cara tá dando uns pegas é com você! Pobre de mim que fico com o Júnior, que mora num apê que nunca viu um “Veja Multi Uso” na vida, com mais quatro amigos...
Eu: Cris, se eu subir lá, eu vou dar pra ele. Mas eu não quero fazer isso! Quer dizer, querer eu quero, mas eu não vou fazer isso...
Cris: Então faz assim... sobe lá... e cada vez que o cara enfiar a mão na sua blusa, ou te apertar, ou coisa assim, lembra do... do... ai, pensa em alguém horrível!
Eu: O reitor da faculdade!
Cris: É... pensa no reitor! Isso! Reitor, reitor, reitor! Com aquele bigodão nojento!
Eu: Tá... tá... reitor...
E fui subindo, pensando... “reitor, reitor, reitor, reitor... droga... porque é que eu fui me depilar ontem? Se eu não tivesse me depilado, com certeza eu não ia nem pensar em dar pro cara... reitor, reitor, reitor, reitor...”
Entrei no quarto.
Vítor: Cadê a bolsa?
“Cadê a bolsa??? Cadê a bolsa!!!”
Eu: Errrrrr... é... a-kran... então... a bolsa... vou descer pra buscar, espera!
* * *
Eu: Cris, cadê minha bolsa?
Cris: Mas você não trouxe bolsa!
Eu: Então me dá a sua! Tchau!
Cris: Ow...
* * *
Eu: Oi...
Vítor: Aí está ela...
Eu: A bolsa?
Vítor: Não. Você!
Ai, merda! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR!
Vítor: Que foi?
Eu: Nada... nada... rs...
E o garoto me agarrou contra a parede...
Putaqueopariu! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR!
Ele: Tem certeza de que tá tudo bem?
Eu: Sim, sim... continue... rs...
E aí ele foi chegando, chegando... dando aquelas encoxadas que destróem qualquer tipo de boa intenção que poderia existir num momento como aquele...
Vai Endora: REITOR! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR!
Eu: É... então... nossa... é que eu tô com... com...
Vítor: Com o quê?
...com o quê, caraleo? Pensa Endora!
Eu: ... com... com...
Lembra dos episódios de E.R.!!!
Eu: ... com... com... COM SÍNDROME DE ENCEFALIA IRRITÁVEL! É isso!
Vítor: Com o quê???
Eu: É... desculpa... eu... eu... preciso ir...
E desci as escadas correndo e encontrei a Cris me procurando por causa da bolsa. A peguei pelo braço, saí da casa arrastando a pobrezinha que num tava entendendo porra nenhuma, entrei no carro dela e eu mesma fui dirigindo... parei o carro num parque que tem aqui na cidade, saí e falei que ela podia voltar se quisesse. Mas que eu ia ficar ali por algumas horas.
Ela ficou me olhando com cara de “Hein?” e quis por que quis saber o que havia acontecido. Contei. Ela começou a rir...
Cris: Meu... eu num acredito...
Eu: Pois é... acredite! Eu queria dar pro cara. E MUITO. Mas eu consegui! Ou melhor, NÃO CONSEGUI.
Cris: Não... eu num tô falando disso... você realmente pensou no reitor?
Eu: Claro!
Cris: Endie, olha... eu tenho uma tia que é enfermeira... ela é super legal e conhece uns lugares muito bons assim... pra você, de repente, começar um tratamento e...
Eu: CRIS!!!
Cris: Defiitivamente: essa não é a Endie! SUA FALSÁRIA! SAIA DO CORPO DA ENDIE! SAIA! SAIA!
Eu: CRIS...
Cris: ???
Eu: ???
Cris: ??? ???
Eu: ??? ???
Cris: Ah... eu num vou voltar pra lá...
Eu: Nem eu...
Cris: Então... vâmo comer no Mc Donald’s?
Eu: Vâmo!
Cris: Ah! E antes que eu me esqueça: PARABÉNS PELA RESISTÊNCIA!
Eu: Valeu! Mas ela não seria tão grande se ele fosse outro...
Cris: Vou te apresentar um cara.
Eu: Por quê?
Cris: Como assim... “por quê” ? Você deveria dizer: “Sério? E como ele é?” e tals...
Eu: Ai, Cris...
E aí, seguiu-se toda uma explicação a respeito do “porquê” de querer me apresentar o tal garoto. Primeiro, porque ele é careca. Depois, porque ela ia ficar com o amigo dele e o cara pediu pra ela levar uma amiga pro amigo. Ainda tinha o fato de que ia rolar um churrasco na casa dele, além de...
Cris: ... ele tem TUDO a ver com você!
Eu: Não diga...
Tá. A minha empolgação não era das maiores. Até porque eu ando com tanto medo de me apaixonar de novo, que eu ando correndo de qualquer cara que possa causar esse siricutico em mim novamente...
Eu: Tá bom... eu vou nesse tal churrasco!
Nem fiz nenhuma mega produção pra ir. Ah, meu! Era só um churrasco! Quando a Cris me viu, ela quis me espancar. Mas eu tava com o “foda-se” ligado e já entrei no carro acendendo meu cigarro. Eu tinha colocado um jeans qualquer, all star, uma blusinha que nem decote tinha, fiz uma trança no cabelo e coloquei os meus brincões-de-argola-tipo-bambolê que, eu acho, eram as únicas coisas que realmente chamavam a atenção para a minha pessoa... sim, eles são MUITO enormes!
A gente chegou lá na casa do cara e já tinha um tantão de gente... gente na graminha do jardim, gente na escada, gente na beira da piscina... é meu... o cara tinha uma PUTA casa!
Depois de eu quase chutar uns três poodles nojentos que apareceram no portão [e quase levar uma surra da Cris por estar querendo fazer isso], o tal carinha com quem ela tava ficando apareceu pra receber a gente, todo simpático e tals... fiquei só esperando pra ver o que me aguardava...
Enquanto a gente passava pelo meeeega jardim que tinha na casa do cara, eu fui só olhando o naipe do povo que tava ali. De um lado, Patis que se achavam junkies. De outro, Mauricinhos querendo dar uma de punks. O HORROR! Porque garota junkie não fica comentando sobre as compras daquela tarde na loja da Guaraná Brasil. E punks verdadeiros não usam gel no cabelo... aliás, punks de verdade nem tomam banho... ou pelo menos, não tomavam...
Depois de ver tão mórbida cena, já fiquei imaginando que o tal dono da festa, aka, careca que a Cris ia me apresentar, deveria fazer parte dessa escória burguesa e que naquela noite eu iria parar na delegacia por assassinar três cachorros de madame!
E lá veio ele... Beijinhos no rosto. “Oi” daqui, “oi” dali... “Prazer, Vítor”. “Prazer, Endora”. “Cris, como você tá bonita!”. “Nossa que brinco grande!”. E já pensei: “A estratégia da roupa fuleira vai dar certo...”, afinal, quem estava bonita era a Cris. Eu estava apenas com “brincos grandes”.
Como um bom anfitrião, ele foi buscar uma cerveja. Eu e a Cris ficamos lá no sofazinho bacana... praticamente nos comunicando por pensamento e por olhares... até que ela quebrou o silêncio:
Cris: Ele é gatinho, num é?
Eu: Normal. Nada demais. Tirando o fato de ser careca... é um cara absolutamente comum...
Cris: Foda essa casa hein?
Eu: Ah meu! Isso é! Esse cara num tem família não?
Cris: Os pais dele estão na praia.. vão quase todo fim de semana pra lá. E a irmã mais velha dele já é casada... ai, por que eu num tenho uma casa dessas?
Eu: Por que é que eu não tenho pais que viajam para a praia todo fim de semana?
Então, ele voltou com o amigo que ia ficar com a Cris. Cinco minutos depois, eles já estavam se atracando feito duas igüanas em época de procriação. E eu lá, com a minha latinha entre as mãos, olhando pra péssima decoração daquela sala, que mais parecia uma loja de móveis, tamanha era a quantidade de coisa nada a ver no mesmo ambiente...
Eu: Legal a decoração da sala...
Vítor: Ah! Fala sério! Isso aqui é horrível! A mulher do meu pai tem um péssimo gosto pra isso...
Huuuuuuum... gostei disso!
Eu: Ah... seus pais são separados...
Vítor: Não... meu pai é viúvo. Faz uns 7 anos que minha mãe faleceu...
Eu: Putz... sinto muito...
Vítor: É... mas aí ele achou esse vaca-loira...
... e me mostrou um porta-retrato com a foto dos dois...
Vítor: ... e casou com ela...
Huuuuuuum... gostei MESMO disso!
E apareceu um poodle...
Vítor: ... e eu odeio esses poodles que ela tem também...
Estou começando a me arrepender de não ter colocado um decote...
E seguiu-se então uma longa conversa sobre “n” coisas: música, bandas, faculdade, amigos, viagem, TV... Tudo bem que, de 5 em 5 minutos, o celular dele tocava, alguém chegava e ele ia receber, alguma garota o parava na entrada da sala, a empregada vinha dizer que o amigo dele que tava na churrasqueira queria saber se podia colocar mais carne lá... mas o interessante é que ele sempre voltava pro sofazinho...
Realmente. Tínhamos muito a ver. Porque a gente não parava de conversar durante um minuto. Sabe quando o assunto não acaba? No começo, achei que aquela atenção toda era mera formalidade ou educação... mas depois... bom, ninguém volta pra trocar idéia com alguém cuja conversa não está sendo interessante!
Passei então da fase “ele-não-está-sendo-apenas-educado-e-está-realmente-gostando-de-conversar-comigo” e passei para a fase do “esse-cara-só-quer-me-comer”. Porque é IMPOSSÍVEL um cara ser tão legal assim com uma menina que está mega mocréia, apenas porque a conversa tá boa... SEMPRE HÁ segundas intenções... Whatever!
Até que, chegou uma hora que o cara ficou muito puto com tanta gente procurando por ele o tempo todo. Ele virou pro amigo dele que tava ficando com a Cris, deu a chave da casa pro cara e disse: “Toma conta!”.
Quando ele falou isso, eu pensei:
“Ih! Fodeu!”
O cara pegou na minha mão...
“Ai meu Deus! Fodeu mesmo!”
Vítor: Vâmo pro meu quarto... lá ninguém enche o saco e a gente pode conversar de boa...
“Caraleeeeeeo!”
Fui subindo as escadas, olhando desesperada para a Cris, que beijava o tal menino com o olho arregaladão e me fazendo sinal de “positivo” ... uma cena mais do que tosca!
Cheguei no quarto do cara, sentei na cama...
“Se ele trancar a porta... já era!!!”
Felizmente ele não fez isso. Só encostou a porta. E eu lá, com aquela cara de... “e agora”?
E então o menino deu um pulo da porta até a cama, que eu quase caí do colchão!!! Me agarrou, começou a me beijar e a fazer todas aquelas coisas... e eu lá, beijando, agarrando e só pensando... “E agora? Dou ou não dou pra esse cara?”.
Comecei a refletir sobre a situação. Era um pouco difícil porque eu tinha que coordenar mãos, boca e pensamentos... mas eu continuei tentando...
Esse cara é gato. Esse cara é legal. Acho que num vai ter problema dar pra ele... Se bem que ele pode ser do tipo pilantra e deve estar fazendo tudo isso só pra comer. Toda essa gentileza e tals... É... ele só quer me comer... mas, e daí? Eu quero dar! E agora? Dou ou não dou? Dou ou não dou? Dou ou não dou?
Foi então que ele me deu um puxão de cabelo, mas AQUELE puxão de cabelo de quem já tem anos e anos de prática em catar meninas cabeludas... um puxão de cabelo que meu ex namorado, em quatro anos de namoro, nunca aprendeu a dar! Porque não foi um simples “puxão”: ele segurou meu cabelo assim, perto da nuca, fechou a mão e puxou o cabelo com os dedos... olha... vou te contar uma coisa...
Dou!
E aí, ele começou a morder meu pescoço...
Dou! Dou! Dou!
E o cara começou a levantar minha blusa, e eu puxei a camiseta dele e...
“Au! Au! Au! Grrrrrrrrrrr!!!”
Vítor: Poodle filho da puta! Solta a minha meia!
O POODLE!!! Quem diria! O POODLE FOI A SALVAÇÃO! Ele levantou, foi até a porta e quase arremessou o cachorro lá de cima... aproveitei a deixa e falei que precisava pegar minha bolsa com a Cris. Acho que ele pensou que eu estivesse indo buscar camisinhas porque ele nem falou nada. Apenas, que ia me esperar...
Engoli seco, desci as escadas ainda meio descabelada e encontrei com a Cris saindo da cozinha...
Eu: Cris... pelamordedeus!
Cris: E aí? Beijou?
Eu: Se eu beijei? Meu, o cara tá quase fazendo sexo selvagem comigo lá em cima!!!
Cris: EEEEEEEEEEEEE!!!
Eu: Cris, eu num vou dar pra ele...
Cris: Por quê?
Eu: Ah meu... sei lá... eu acho que eu num devo... eu quero, mas eu num devo...
Cris: O cara num é legal? O cara num é bonito? O cara num tem essa puta casa? Você tirou a sorte grande! Tem um monte de menina querendo ficar com ele e o cara tá dando uns pegas é com você! Pobre de mim que fico com o Júnior, que mora num apê que nunca viu um “Veja Multi Uso” na vida, com mais quatro amigos...
Eu: Cris, se eu subir lá, eu vou dar pra ele. Mas eu não quero fazer isso! Quer dizer, querer eu quero, mas eu não vou fazer isso...
Cris: Então faz assim... sobe lá... e cada vez que o cara enfiar a mão na sua blusa, ou te apertar, ou coisa assim, lembra do... do... ai, pensa em alguém horrível!
Eu: O reitor da faculdade!
Cris: É... pensa no reitor! Isso! Reitor, reitor, reitor! Com aquele bigodão nojento!
Eu: Tá... tá... reitor...
E fui subindo, pensando... “reitor, reitor, reitor, reitor... droga... porque é que eu fui me depilar ontem? Se eu não tivesse me depilado, com certeza eu não ia nem pensar em dar pro cara... reitor, reitor, reitor, reitor...”
Entrei no quarto.
Vítor: Cadê a bolsa?
“Cadê a bolsa??? Cadê a bolsa!!!”
Eu: Errrrrr... é... a-kran... então... a bolsa... vou descer pra buscar, espera!
* * *
Eu: Cris, cadê minha bolsa?
Cris: Mas você não trouxe bolsa!
Eu: Então me dá a sua! Tchau!
Cris: Ow...
* * *
Eu: Oi...
Vítor: Aí está ela...
Eu: A bolsa?
Vítor: Não. Você!
Ai, merda! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR!
Vítor: Que foi?
Eu: Nada... nada... rs...
E o garoto me agarrou contra a parede...
Putaqueopariu! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR!
Ele: Tem certeza de que tá tudo bem?
Eu: Sim, sim... continue... rs...
E aí ele foi chegando, chegando... dando aquelas encoxadas que destróem qualquer tipo de boa intenção que poderia existir num momento como aquele...
Vai Endora: REITOR! REITOR! REITOR! REITOR! REITOR!
Eu: É... então... nossa... é que eu tô com... com...
Vítor: Com o quê?
...com o quê, caraleo? Pensa Endora!
Eu: ... com... com...
Lembra dos episódios de E.R.!!!
Eu: ... com... com... COM SÍNDROME DE ENCEFALIA IRRITÁVEL! É isso!
Vítor: Com o quê???
Eu: É... desculpa... eu... eu... preciso ir...
E desci as escadas correndo e encontrei a Cris me procurando por causa da bolsa. A peguei pelo braço, saí da casa arrastando a pobrezinha que num tava entendendo porra nenhuma, entrei no carro dela e eu mesma fui dirigindo... parei o carro num parque que tem aqui na cidade, saí e falei que ela podia voltar se quisesse. Mas que eu ia ficar ali por algumas horas.
Ela ficou me olhando com cara de “Hein?” e quis por que quis saber o que havia acontecido. Contei. Ela começou a rir...
Cris: Meu... eu num acredito...
Eu: Pois é... acredite! Eu queria dar pro cara. E MUITO. Mas eu consegui! Ou melhor, NÃO CONSEGUI.
Cris: Não... eu num tô falando disso... você realmente pensou no reitor?
Eu: Claro!
Cris: Endie, olha... eu tenho uma tia que é enfermeira... ela é super legal e conhece uns lugares muito bons assim... pra você, de repente, começar um tratamento e...
Eu: CRIS!!!
Cris: Defiitivamente: essa não é a Endie! SUA FALSÁRIA! SAIA DO CORPO DA ENDIE! SAIA! SAIA!
Eu: CRIS...
Cris: ???
Eu: ???
Cris: ??? ???
Eu: ??? ???
Cris: Ah... eu num vou voltar pra lá...
Eu: Nem eu...
Cris: Então... vâmo comer no Mc Donald’s?
Eu: Vâmo!
Cris: Ah! E antes que eu me esqueça: PARABÉNS PELA RESISTÊNCIA!
Eu: Valeu! Mas ela não seria tão grande se ele fosse outro...