2.4.04
CAMPEONATO MUNDIAL DE PACIÊNCIA
“A propósito... acho que eu vou ficar careca... casa comigo?”
Sim, eu caso!
( . . . )
Se no mundo existe campeonato de tudo, até de imitar galinha cacarejando, porque não podem inventar um campeonato de jogo “Paciência”?
Porque, se existisse um campeonato desses, acho que eu poderia representar muito bem essa nação da qual fazemos parte. Poderia ser um evento organizado em algum Cassino luxuoso de Las Vegas, com equipes de TV do mundo todo transmitindo, com direito a imagens ao vivo e cobertura 24 horas dos jogos e das eliminatórias.
Sim, eu chegaria numa limousine preta... não, não... eu chegaria num jipe verde, e todos olhariam para o carro e pensariam: “Nossa, mais um nerd chegando para a competição!”. Mas não! Eu desceria do carro com um vestido longo de Jean-Paul Gautier, segurando uma taça de champanhe, enquanto o hostess do Cassino estenderia a sua mão para me ajudara descer de tão nobre veículo...
Eu andaria por um belíssimo tapete vermelho, seria abordada por vários repórteres, mas eu ia procurar mesmo era alguma pessoa cujo microfone tivesse um “E!” ilustrado. Sim, sim! Eu apareceria na “E! Entertainment Television” e depois teria a minha roupa elogiada pelos malvados do Fashion Police.
Eu estaria um pouco vesga, devido à quantidade de flashes disparados sobre minha pessoa. Mas mesmo assim, estaria com um sorriso vibrante e, ao ser questionada sobre a minha “estratégia de jogo”, colocaria meus óculos de grau e responderia com cara de intelectual:
Eu: Preparei uma estratégia onde todos os “Ases” deverão ser localizados no montante do baralho e logo depois, todos os reis, damas e valetes agrupados para que eu possa dar continuidade à seqüência de cartas antes de subir todas elas para o montinho de cima.
Todos ficariam perplexos com tamanha astúcia da minha parte e eu adentraria o local do campeonato, no maior estilo: “É! Eu sou fodona!”. Todos os geeks do mundo estariam reunidos ali, e eu seria alvo de vários olhares culminantes. Especialmente do participante do Japão – meu inimigo mortal de partidas de paciência – cujo ódio faria com que eles desejasse que eu tomasse um tombo fenomenal diante das câmeras do mundo todo.
No Brasil, a Rede Globo teria comprado os direitos da transmissão e o narrador de tão empolgante disputa seria o Galvão Bueno. Porque o Cléber Machado é o narrador #2. Apesar de eu achar ele mais legal. Mas o povão gosta é do Galvão Bueno, então, teria de ser ele.
Você estaria assistindo a novela das oito e quando ela terminasse, imagens aéreas do Cassino de Las Vegas seriam mostradas, enquanto nosso célebre narrador, diria:
Galvão Bueno: Boa Noite amigos da Rede Globo! Começando agora o Caaaaampeonato Muuuundial de Jogo Paciência. O Brasil, muito bem representado por Endora Misfits! Veja aí, imagens da nossa atleta...
E apareceria uma imagem minha, ainda com a taça de champanhe nas mãos, já posicionada na frente do meu computador, conversando alegremente com o participante da Austrália – um careca gato que havia passado um carnaval na Bahia – e que acreditava piamente que já tinha me visto lá.
O Campeonato começaria e a fase eliminatória se daria através de grupos de dez participantes envoltos em seus óculos aro 14 e suas mãos frenéticas sobre o mouse. Ganha mais pontos quem termina o jogo em menos tempo e com menos viradas no baralho. Eu derrotaria todos eles, passaria para as semi-finais, derrotando o garoto da Coréia [que já estaria me jurando de morte por ter dado um espirro ao lado dele].
A empolgação do local seria algo memorável: pessoas sentadas, barulhos de cliques e olhares tensos.
Por fim, eu chegaria a final, justamente com o japonês filho da puta e seríamos colocados frente a frente, como numa partida de xadrez.
Na transmissão da TV, a tela seria dividida em duas: do lado direito, uma reprodução do meu jogo com uma bandeira do Brasil no canto; do lado esquerdo, uma reprodução do jogo do japonês disgramado com a bandeirinha do Japão.
Galvão Bueno: E comeeeeeeeeeeeça a partida! É o Brasil na final muuuuuundial de Jogo Paciência. Lá vai Endora, ela clica no baralho, abre as cartas e recebe logo de cara um Rei. Ela não consegue localizar nenhuma seqüência no baralho aberto e clica no monte. Aparece um Ás!!! Olha o Ás aê... Endora manda o Ás para os montes de cima, clica novamente no baralho e recebe um Valete vermelho... Lá vai Endora, puxa o Valete vermelho para a Dama preta. Puxa o dez preto para o Valete Vermelho e abre um noooooove embaixo da carta! Que sorte!
Enquanto isso, o participante do Japão só teria cartas grandes sendo abertas e nem um único Ás para subir para o monte de cima. O jogo se tornaria tenso a partir do momento que ele montasse toda uma seqüência e ficasse apenas à espera de um dois de paus para começar a subir suas cartas...
Porém, fortuitamente, eu pisaria no cabo principal do computador dele e tudo se apagaria na tela daquele maldito nipônico! Além de estar representando o Brasil em tamanho evento do mundo, estaria também honrando todos os vestibulandos ocidentais que tem suas vagas literalmente “tomadas” pelos já tão famosos estudantes residentes do Bairro da Liberdade. E faria uma aparição especial no cursinho do Anglo, onde 80% dos estudantes de origem oriental estariam dispostos a cortar o meu pescoço com uma espada de samurai.
Sim. Eu ganharia a partida. Eu seria a campeã mundial de Jogo Paciência! O japonês esbravejaria algo que ninguém conseguiria entender enquanto eu estivesse recebendo o meu troféu, cujo símbolo representativo seria um belo Ás dourado de copas!
Galvão Bueno: É isso, caros amigos da Rede Globo! Mais um título para o nosso...
BRASIL – IL – IL – IL – IL !!!
Galvão Bueno: ... semana que vem, começa o campeonato mundial de Truco e é a família Misfits fazendo escola... o Brasil vai ser representado por Fornocker, irmão da nossa campeã Endora! Fiquem com a gente! Globo e você... Tudo a ver!!!!
* * *
Yep! Eu só escrevi tudo isso para dizer que eu adoro jogar Paciência. E eu NÃO ME UTILIZO de nenhum tipo de cogumelo alucinógeno, ok?
“A propósito... acho que eu vou ficar careca... casa comigo?”
Sim, eu caso!
( . . . )
Se no mundo existe campeonato de tudo, até de imitar galinha cacarejando, porque não podem inventar um campeonato de jogo “Paciência”?
Porque, se existisse um campeonato desses, acho que eu poderia representar muito bem essa nação da qual fazemos parte. Poderia ser um evento organizado em algum Cassino luxuoso de Las Vegas, com equipes de TV do mundo todo transmitindo, com direito a imagens ao vivo e cobertura 24 horas dos jogos e das eliminatórias.
Sim, eu chegaria numa limousine preta... não, não... eu chegaria num jipe verde, e todos olhariam para o carro e pensariam: “Nossa, mais um nerd chegando para a competição!”. Mas não! Eu desceria do carro com um vestido longo de Jean-Paul Gautier, segurando uma taça de champanhe, enquanto o hostess do Cassino estenderia a sua mão para me ajudara descer de tão nobre veículo...
Eu andaria por um belíssimo tapete vermelho, seria abordada por vários repórteres, mas eu ia procurar mesmo era alguma pessoa cujo microfone tivesse um “E!” ilustrado. Sim, sim! Eu apareceria na “E! Entertainment Television” e depois teria a minha roupa elogiada pelos malvados do Fashion Police.
Eu estaria um pouco vesga, devido à quantidade de flashes disparados sobre minha pessoa. Mas mesmo assim, estaria com um sorriso vibrante e, ao ser questionada sobre a minha “estratégia de jogo”, colocaria meus óculos de grau e responderia com cara de intelectual:
Eu: Preparei uma estratégia onde todos os “Ases” deverão ser localizados no montante do baralho e logo depois, todos os reis, damas e valetes agrupados para que eu possa dar continuidade à seqüência de cartas antes de subir todas elas para o montinho de cima.
Todos ficariam perplexos com tamanha astúcia da minha parte e eu adentraria o local do campeonato, no maior estilo: “É! Eu sou fodona!”. Todos os geeks do mundo estariam reunidos ali, e eu seria alvo de vários olhares culminantes. Especialmente do participante do Japão – meu inimigo mortal de partidas de paciência – cujo ódio faria com que eles desejasse que eu tomasse um tombo fenomenal diante das câmeras do mundo todo.
No Brasil, a Rede Globo teria comprado os direitos da transmissão e o narrador de tão empolgante disputa seria o Galvão Bueno. Porque o Cléber Machado é o narrador #2. Apesar de eu achar ele mais legal. Mas o povão gosta é do Galvão Bueno, então, teria de ser ele.
Você estaria assistindo a novela das oito e quando ela terminasse, imagens aéreas do Cassino de Las Vegas seriam mostradas, enquanto nosso célebre narrador, diria:
Galvão Bueno: Boa Noite amigos da Rede Globo! Começando agora o Caaaaampeonato Muuuundial de Jogo Paciência. O Brasil, muito bem representado por Endora Misfits! Veja aí, imagens da nossa atleta...
E apareceria uma imagem minha, ainda com a taça de champanhe nas mãos, já posicionada na frente do meu computador, conversando alegremente com o participante da Austrália – um careca gato que havia passado um carnaval na Bahia – e que acreditava piamente que já tinha me visto lá.
O Campeonato começaria e a fase eliminatória se daria através de grupos de dez participantes envoltos em seus óculos aro 14 e suas mãos frenéticas sobre o mouse. Ganha mais pontos quem termina o jogo em menos tempo e com menos viradas no baralho. Eu derrotaria todos eles, passaria para as semi-finais, derrotando o garoto da Coréia [que já estaria me jurando de morte por ter dado um espirro ao lado dele].
A empolgação do local seria algo memorável: pessoas sentadas, barulhos de cliques e olhares tensos.
Por fim, eu chegaria a final, justamente com o japonês filho da puta e seríamos colocados frente a frente, como numa partida de xadrez.
Na transmissão da TV, a tela seria dividida em duas: do lado direito, uma reprodução do meu jogo com uma bandeira do Brasil no canto; do lado esquerdo, uma reprodução do jogo do japonês disgramado com a bandeirinha do Japão.
Galvão Bueno: E comeeeeeeeeeeeça a partida! É o Brasil na final muuuuuundial de Jogo Paciência. Lá vai Endora, ela clica no baralho, abre as cartas e recebe logo de cara um Rei. Ela não consegue localizar nenhuma seqüência no baralho aberto e clica no monte. Aparece um Ás!!! Olha o Ás aê... Endora manda o Ás para os montes de cima, clica novamente no baralho e recebe um Valete vermelho... Lá vai Endora, puxa o Valete vermelho para a Dama preta. Puxa o dez preto para o Valete Vermelho e abre um noooooove embaixo da carta! Que sorte!
Enquanto isso, o participante do Japão só teria cartas grandes sendo abertas e nem um único Ás para subir para o monte de cima. O jogo se tornaria tenso a partir do momento que ele montasse toda uma seqüência e ficasse apenas à espera de um dois de paus para começar a subir suas cartas...
Porém, fortuitamente, eu pisaria no cabo principal do computador dele e tudo se apagaria na tela daquele maldito nipônico! Além de estar representando o Brasil em tamanho evento do mundo, estaria também honrando todos os vestibulandos ocidentais que tem suas vagas literalmente “tomadas” pelos já tão famosos estudantes residentes do Bairro da Liberdade. E faria uma aparição especial no cursinho do Anglo, onde 80% dos estudantes de origem oriental estariam dispostos a cortar o meu pescoço com uma espada de samurai.
Sim. Eu ganharia a partida. Eu seria a campeã mundial de Jogo Paciência! O japonês esbravejaria algo que ninguém conseguiria entender enquanto eu estivesse recebendo o meu troféu, cujo símbolo representativo seria um belo Ás dourado de copas!
Galvão Bueno: É isso, caros amigos da Rede Globo! Mais um título para o nosso...
BRASIL – IL – IL – IL – IL !!!
Galvão Bueno: ... semana que vem, começa o campeonato mundial de Truco e é a família Misfits fazendo escola... o Brasil vai ser representado por Fornocker, irmão da nossa campeã Endora! Fiquem com a gente! Globo e você... Tudo a ver!!!!
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Yep! Eu só escrevi tudo isso para dizer que eu adoro jogar Paciência. E eu NÃO ME UTILIZO de nenhum tipo de cogumelo alucinógeno, ok?