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4.3.04


EU QUERO QUE O TEMPO PÁRE. SIM, EU QUERO MUITO ISSO

Ontem eu tive de almoçar sozinha. Quem me conhece, sabe o quanto eu odeio comer sozinha. Mas eu tava longe e com fome. Muita. Não ia ter jeito. Até porque, eu não ia esperar chegar no escritório pra poder comer um lanche ou qualquer outra tranqueira. Então, eu parei o carro e fui comer no primeiro Mc Donald’s que eu vi na frente.

Peguei meu lanche, sentei numa daquelas mesinhas “solo” e enquanto eu pegava as batatas e me deliciava com o sagrado Mc Fruit de Uva, eu ia olhando pro papelzinho da bandeja que me mostrava milhões de coisas que “amo muito” fazer... sloganzinho infame esse...

E o chato de comer sozinha é que você fica lá, olhando ao ser redor enquanto come... uma coisa meio vazia e incômoda.

Foi aí que eu vi entrando um cara com uma criança de uns 3 anos mais ou menos. E ele não me era estranho. Eu olhava, olhava... mas eu não me lembrava de onde o conhecia. Algo nele era familiar e eu esperei até que ele entrasse na área do restaurante pra eu poder olhar melhor. E quando ele entrou, eu levei um susto. Ali estava, 11 anos depois, o primeiro cara que eu beijei nessa vida.

Ele sentou e a menininha que estava junto com ele tentava desesperadamente pegar o brinquedo do Mc Lanche Feliz, enquanto ele, com toda a paciência do mundo, abria o lanche e pegava a batata pra que ela comesse...

Eu tentei evitar, mas foi impossível: eu não conseguia parar de olhar pra ele. Teve uma hora em que eu até fiquei com um pouco de vergonha, porque talvez ele não se lembrasse de mim e pudesse achar que eu estava pagando um pau pra ele ou coisa assim. Talvez pensasse “quem é essa louca que fica me ‘secando’?” ou coisa assim...

Então, eu o observava meio que de canto de olho, dava uma disfarçada... e quando eu via que ele ia se entreter com a criança, o olhava mais fixamente e ficava analisando a mudança da fisionomia em função da idade... Sim! É ele! E uma coisa não havia mudado: OS OLHOS DELE CONTINUAVAM OS MESMOS. Acho que foi o que me fez reconhecê-lo.

Ele estava mais alto, com menos cabelo... a voz estava bem diferente... Ele tinha 14 anos e eu tinha 12 quando ficamos. Sem dúvida, a voz havia mudado bastante. Eu o ouvia dizendo: “Come Carolina! Batatinha é gostoso! Come!”. Achei engraçado, meigo e até irônico aquele jeitão moleque de querer fazer a menina comer a comida de um mega fast-food fabricante de comida junkie...

Aí ele olhou pra frente e me viu olhando pra ele. E eu devia estar com um sorriso meio bobo no rosto por estar vendo aquela cena tão fofa. Tudo bem que eu quase engasguei com a batata e olhei pra qualquer lado pra ver se conseguia disfarçar aquela baita guela que eu havia dado...

Foi então que ele começou a me olhar. E eu já fiquei pensando: ”Ai meeeeeu... esse cara deve achar que eu tô afim... ai...”. E lá estava ele, dividindo o olhar entre a menina, o lanche dela, a batata dele e eu... Tomei o último gole do suco e comecei a arrumar a bandeja pra jogar o lixo que tava ali. Na hora em que eu coloquei minha bolsa e fui sair, ele se levantou e falou um “Espera!”. Falou pra menininha ficar quietinha e me perguntou: “Você é a Endora, não é? A prima da Aline?”. “Sim. Eu mesma...”

Aí ficou aquela coisa estranha... ele sorrindo, eu sorrindo... eu com a bandeja e ele ainda com a mão esticada na direção da menina... e aqueles segundos de silêncio que parecem uma eternidade foram quebrados quando a pirralhinha derrubou o refrigerante todo em cima da mesa...

Foi uma cena engraçada. Ele correu pra pegar o copo, a menina olhava pra roupinha cor de rosa e ria... eu fui jogar o lixo da minha bandeja e a atendente do Mc foi com aquele esfregão tentar limpar aquela caca toda...

Ele: Tá vendo? Isso que dá ter criança pequena!

Eu: Ah! É sua filha?

Ele: É... é sim...

Foi então que ele me contou que a “Carolzinha” era fruto de uma noite onde ele bebeu demais e foi pra cama com uma menina que ele nunca tinha visto na vida. E que pensou nunca mais ver até ela ligar contando a “boa nova”...

Guardanapos e guardanapos depois, a menina já estava de novo “brigando” com o lanche e a gente entrou naqueles papos tipo... “Nossa! Há quanto tempo!” e “E aí, o que você fez da vida nesses últimos dez anos?”.

Contei resumidamente algumas coisas e ele também. Nos despedimos e eu fui embora.

O que eu fiz da vida nesses últimos dez anos.

Talvez, se eu fosse contar tudo, ficaríamos horas e horas e horas falando sobre coisas, pessoas e lugares... dias, meses e anos... horas, minutos e segundos... Ele também devia ter muita coisa pra contar. Seriam horas em dobro.

Peguei o carro e no caminho eu vim pensando nas pessoas que vieram e que se foram da minha vida nesses últimos dez anos. Como esse garoto que foi tão importante pra mim, porque eu ainda era meio criança e ele também. E que, naquela época, a gente foi uma coisa muito importante um pro outro.

Como meu ex namorado que apareceu na minha vida em um momento onde eu achei que tudo estava errado, que nada daria certo. E que eu amei tanto! E que me fez chorar tantas vezes e, de vez em quando, ainda bate um aperto quando eu ouço, do nada, a música que a gente tanto gostava.

Como meu grande amigo que me pegava no colo e me girava no meio do pátio da faculdade e gritava meu apelido onde quer que estivéssemos. Que puxava meu cabelo, me chamava de gordinha e que me deixou ser a primeira pessoa a andar com ele no primeiro carro que comprou. E que partiu dessa pra uma melhor com apenas 22 anos, por causa desse mesmo carro em que eu fui a nobre “primeira passageira”.

Como o blogueiro chuchu que discutia comigo pelo msn questões existenciais e que um dia me ligou e me chamou pra sair. E que antes mesmo de eu ver, já fez com que eu me apaixonasse e a gente achava isso muito intenso porque não fomos atraídos pelas nossas aparências e sim, pelo que realmente éramos. E que me ofereceu uma gripe em troca de um beijo. Um beijo que fez o chão sumir... sim, eu lembro bem disso...

Como aquele menino tão cobiçado que eu imaginei que nunca ia se interessar por mim. E que me abraçou e me fez querer que aquele abraço durasse para sempre! E que quando eu menos esperava, me deu um beijo e me fez sentir aquele frio na barriga que a gente só sente quando sabe que aquela pessoa é especial e que aquele momento vai ser único na sua vida.

E pensei que, tem dias em que eu quero que o tempo páre e que tudo fique ali, do jeito que está. Que nada mude. Que tudo seja perfeito.

Como sempre deveria ter sido.