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23.2.04


DIAS FRIOS

Dias frios me fazem pensar bastante em coisas nas quais eu não pensaria em dias quentes, de céu azul e de crianças brincando de empinar pipa na rua.

Porque nos dias frios as pessoas ficam em casa, com as suas coisas, sua TV, seus livros, seu cachorro, gato e afins. As pessoas colocam meias por cima da calça e ficam embaixo das cobertas. Algumas vezes acompanhadas mas na maioria, sozinhas.

Então, eu cheguei à conclusão de que a felicidade é um estado momêntaneo do ser humano. Sim, porque ninguém é de verdade feliz. As pessoas tem, na verdade, momentos de felicidade. Mas a felicidade em si, não está presente durante o tempo todo.

Já a tristeza é algo mais sólido, mais persistente. É um engano dizer que as pessoas vivem em busca de um amor. As pessoas vivem em busca é da felicidade. Mas a felicidade é algo quase que inatingível... quando você acha que ela está ali, que tudo está bem... PLAFT! A vida te dá aquele tapa na cara e você acorda daquele sonho bobo e percebe que o destino estava mais uma vez te fazendo de marionete e que, quando tudo ficou banal demais, era hora de arruinar alguma coisa pra que a história tivesse mais emoção.

É como nos filmes. Os filmes não contam histórias felizes 100%. Eles podem até terminar com um final feliz, mas... quanta coisa acontece até que tudo fique bem? E nem sempre há uma continuação do filme pra você saber se tudo ficou bem de verdade.

Os contos de fada é que são bem incisivos. Já terminam com um “e viveram felizes para sempre” para darem a certeza às crianças de que tudo ficou realmente bem. E enquanto isso, seus pais brigam no quarto aumentando a estatística dos divórcios...

Aí, toca aquela música que você gosta no rádio. E você fica feliz. Mas aí você chega em casa, vai abrir a sua Caixa de Entrada e lê um e-mail que você nunca quis receber.

Você encontra um amigo de anos enquanto esperava o ônibus e minutos depois, ao chegar no trabalho, descobre que foi demitido.

Você ganha na loteria e logo depois descobre que ficou doente.

Somos marionetes. Somos brinquedos. Brinquedos de Deus, talvez. Ele brinca com a gente, com as nossas vidas, com os nossos sentimentos, com as nossas aspirações, com os nossos sonhos...

Gostaria de entender o critério Dele. Sim, o critério que Ele usa para dar um fim nas nossas histórias. Quem vai ser feliz para sempre ou quem vai passar o resto dos dias fazendo análise no divã de algum psicólogo.

Quem vai para o hospício, quem vai para a cadeia, quem vai para o hospital, quem vai par o palco, quem vai para o escritório... quem vai pra baixo da terra...

Os meus pés ainda estão frios, mas eu não quero colocar meias. Eu não quero colocar blusa. Eu não quero ver um bom filme na TV, nem ler um bom livro.

Eu não quero fazer análise, eu não quero ir para um hospital, eu não quero ser presa. Eu apenas gostaria de ser dona do meu destino, como muitos acham que realmente são.

Mas não somos. Somos brinquedos. Nossa vida é monitorada, há um diretor com boina e óculos escuros dizendo “corta” quando tudo parecia ir bem. Há um roteirista mudando a nossa vida, há um público votando se devemos ou não continuar tendo amigos, tendo um emprego, tendo uma família...

Há um especialista em efeitos especiais fazendo chover bem na hora em que você não podia se molhar. Há um diretor de fotografia dizendo como sua casa deve ser ou como deverá ser a paisagem quando você encontrar o amor da sua vida.

Existem milhares e milhares de seres dominando nossa vida. Não somos donos de nada. Não somos donos de nós.

Somos bonecos. E às vezes nos espetam. E sentimos dor. E somos jogados, abandonados... ficamos em prateleiras, tendo nossas vidinhas normais, até que alguém decida dar mais emoção à ela. E aí nos jogam novamente no palco, com cordinhas amarradas em nossos pés, mãos, cabeça... enquanto achamos que realmente temos controle da situação...